
E para fechar 2010, desejamos a todos os nossos leitores um 2011 muito feliz, cheio de bons momentos, na companhia de bons livros!
Um óptimo 2011 para todos!!!

Com o rápido aproximar do final de ano e após tantas e tão boas leituras dou por mim a rever os livros que fui folheando ao longo de 2010 e como com todos e em todo o lado tento analisar quais os livros que mais me marcaram este ano. É sempre uma escolha difícil até pelas quantidades envolvidas, mas como balanço posso dizer que este foi um ano de bons livros, que, mais uma vez, não consegui ler tudo o que foi saindo e me despertou curiosidade, que se confirmou a excelência de alguns autores e fiz a minha descoberta de vários outros igualmente bons. Para terminar deixo algumas sugestões dos livros que foram, para mim, mais marcantes em 2010. A ordem pela qual os refiro apenas tem a ver com a cronologia das suas leituras e não com a classificação dos mesmos.
Gonçalo M.Tavares é cada vez mais apontado como o próximo Prémio Nobel da Literatura Português. Estas previsões bem como leituras anteriores levaram-me a pegar neste novo título e a lê-lo de um só fôlego. A cada livro novo - e este autor tem sido extremamente produtivo, chegando a publicar vários livros em simultâneo como aconteceu neste final de ano - Gonçalo M.Tavares traz estilos diferentes. Neste caso temos uma espécie de romance em estafeta em que no capítulo que estamos a ler para além de ficarmos a conhecer um personagem surge integrado na história retratada o protagonista do capítulo seguinte , sempre por ordem alfabética e isto até chegarmos ao Matteo, que dá nome ao livro. Nos capítulos finais travamos conhecimento com Matteo e com as suas tentativas de conseguir um novo emprego e também são colocadas algumas questões analíticas acerca das restantes figuras que fomos descobrindo ao longo desta estafeta.
Duas irmãs e um tio deficiente habitam uma casa isolada do resto da povoação. Este é o cenário do romance de Shirley Jackson Sempre Vivemos no Castelo, autora Norte-Americana ainda quase desconhecida em Portugal.
O escritor Miguel Real habituou-nos a romances históricos passados em épocas diversas mas que têm em comum a riqueza de vocabulário e as excelentes descrições. Neste novo romance a época retratada é a do final do século XIX e início do século XX em Portugal. Escrito em forma de memórias, como o título indica, estamos perante a história da vida da última rainha de Portugal: D.Amélia, mulher sofredora, duplamente exilada, que viu morrer o seu marido e os seus três filhos e que nos fala de um país miserável, politicamente desonesto e com uma população analfabeta.




Este é o título de um dos romances do quese desconhecido por cá, mas excelente, escritor Norte-Americano John Fante.
Como todos os nossos seguidores ou visitantes habituais já notaram certamente a nossa assiduidade no blog da K de Livro tem sido baixa e muito irregular. Temos de esclarecer que não se trata de esquecimento ou falta de assunto mas sim e muito simplesmente de falta de tempo. O mês de Dezembro é sempre um período muito atribulado no comércio, acresce que, como já é do vosso conhecimento, ainda nos confrontámos com uma mudança relâmpago de instalações o que veio agravar ainda mais o panorama habitual.
Temos andado um pouco desligadas do blog estes últimos dias, como já é habitual nesta época do ano. Mas para além do volume de trabalho ter aumentado, a K de Livro vai mudar de instalações. Vamos regressar à Praça Manuel Henriques Júnior, junto ao Teatro-Cine, de onde saímos há 3 anos atrás.
Imre Greiner é casado com Anna Fazekas. Kristóf Komives é o juíz que vai pronunciar o divórcio deste casal. Tendo este cenário como ponto de partida, o sempre excelente Sándor Márai, traça o retrato da Budapeste anterior à Segunda Guerra Mundial, as mudanças que todos sentem tanto política, como socialmente e fala-nos essencialmente das batalhas interiores destes dois homens. O primeiro, médico de renome, vive um casamento "perfeito" mas insatisfatório com uma mulher frígida. O juíz por seu lado, vem de uma linhagem de juízes exemplares e conceituados e reparte a sua vida entre o seu trabalho e a sua vida familiar. Entre estes homens há mais em comum do que à partida poderíamos supor e à medida que a história se vai desenrolando vamos percebendo como ambos no seu íntimo não correspondem à imagem que deles passa. Compreendemos em simultâneo, que as vidas simples e regradas que vivem, e, por que não, que vivemos todos, não passam em muitos casos de muros auto-erigidos para se (nos) protegerem do nosso eu mais íntimo.
Este Outono tem sido farto em bons livros e Sunset Park faz parte desse lote. Paul Auster coloca-nos mais uma vez em Nova Iorque, num bairro de Brooklyn, onde um grupo de jovens ocupa de forma ilegal uma casa abandonada. Miles, o protagonista, é o mais recente habitante deste lar improvisado onde todos procuram calor humano, beleza e um lugar no mundo. Estamos em 2008, em plena crise do imobiliário e os personagens são jovens que procuram o seu caminho num mundo onde não é fácil entrar. Com uma escrita fluída e simples, como sempre, Paul Auster, faz-nos um brilhante retrato da actualidade Norte-Americana. 
E o prémio Goncourt deste ano é...Michel Houellebecq. O polémico escritor foi galardoado com o mais importante prémio literário francês pelo seu novo romance La Carte et le Territoire.


José Luís Peixoto é um dos meus escritores favoritos e isto desde a publicação do seu livro Morreste-me, em 2000. Assim, a cada novo livro que publica a curiosidade é sempre muita e em geral as expectativas não saem defraudadas. Foi também o caso com o seu mais recente romance, Livro, editado pela Quetzal. Nesta obra, para além do mundo rural que já é presença habitual nos seus livros, temos uma abordagem à emigração, ao desenraizamento que esta provoca e às consequências para os envolvidos. Porque emigravam os portugueses no anos 60 e 70 do século passado? Do que fugiam? O que procuravam? O que encontraram? A pobreza de Portugal, a guerra colonial, a vontade de conseguir uma vida melhor, são alguns dos temas abordados. A escrita é poética, a linguagem é, por vezes, rude - como usada no campo, e os sentimentos estão sempre à flor da pele, sejam o amor ou o ódio. Dividido em duas partes bem diferentes tanto em termos de linguagem como de temáticas abordadas este Livro é, sem dúvida, entre muitas outras coisas uma homenagem ao livro e à escrita.
O autor deste livro, Denis Johnson, começou por ser poeta, passou pelo romance, ao qual se seguiram as histórias curtas. É neste género que podemos incluir Filho de Jesus. O narrador é um jovem que entre o alcoolismo e a toxicodependência se dedica ao pequeno crime e cuja vida é uma sequência de fracassos. Os vários capítulos do livro falam-nos de diferentes episódios da vida deste narrador que nunca é nomeado. Somos ao longo destes capítulos/ pequenas histórias confrontados com uma América deprimente e feia mas muito real, sendo que apesar deste cenário opressivo acabamos por ter uma imagem quase positiva do narrador pois este consegue, bem ou mal, superar os obstáculos que lhe vão surgindo.
O Bom Inverno traz-nos um escritor hipocondríaco e fracassado que nos conta a experiência marcante vivida por si no último verão. Começamos a leitura com o relato dos acontecimentos que se verificam a meio da história, a qual tem um cunho policial: Don Metzger, proprietário da casa onde o grupo a que pertence o narrador está hospedado, aparece morto. No entanto, estamos perante mais do que um livro que gira à volta de um crime. Há, como é já habitual na escrita de João Tordo, um desenraizamento dos personagens. Há um escritor que não acredita na literatura. Há um grupo de personagens expostas a uma situação de mistério e horror.
Este primeiro romance de André Gago, conhecido actor e encenador, tem como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola e o seu protagonista Rogélio é um jovem que , tendo lutado no lado republicano, se vê no final da guerra do lado perdedor e por isso perseguido. Na sua fuga às autoridades Espanholas acaba por vir parar a Vilarinho da Furna, aldeia comunitária do Gerês. A insanidade da guerra, a crueldade dos vencedores e um amor interrompido deixam este personagem numa espécie de limbo a partir do qual a vida vai passando como o fluir do tempo e da água desse rio que irá transformar as vidas desta comunidade. Com uma escrita de grande beleza, o autor fala-nos das grandes questões políticas Europeias da época, da etnografia de Vilarinho da Furna e percebemos que há assuntos e vivências que se infiltram sob a nossa pele e que dificilmente conseguimos exorcisar.
Todos nós já ouvimos falar do excelente músico que é Leonard Cohen, o que poucos sabiam é que para além de reputado artista da música ele também escreve e muito bem. O Jogo Favorito é um romance originalmente publicado em 1963 e agora disponível em Portugal. Breavman é um jovem cujo percurso de vida vamos acompanhando desde a infância e o seu primeiro amor até à actualidade ( 1958 ) e a deriva total que atravessa. Oriundo de uma família judia Canadiana este poeta vive obcecado por Lisa, sua vizinha e amiga de infância, por quem continua a nutrir recordações ternas e eróticas. Também a sua relação com Krantz, outro amigo de infância, é crucial para Breavmen. Dividido entre uma mãe desequilibrada, uma amizade que, na sua mente, continua igual ao que era na sua adolescência e a recordação opressiva e deturpada de Lisa, o protagonista vive em fuga. Esta é uma fuga interior, uma fuga aos outros mas antes de mais de si próprio. Com muitas referências musicais da época e uma escrita muito poética este livro, que em várias ocasiões me trouxe à mente os temas abordados por Philip Roth, é um documento sobre as nossas obsessões mais íntimas e a desorientação que todos nós pontualmente já sentimos. O único reparo a fazer prende-se, mais uma vez, com os erros e gralhas que abundam ao longo do livro e que apesar de não nos impossibilitarem a compreensão da leitura, a tornam menos fluída e agradável do que deveria e poderia ser. Mas este é, infelizmente, um problema comum a muitas edições de traduções em Portugal. 
Um grupo de amigos reúne-se na casa de campo de Christiane, durante um fim-de-semana, após vários anos de afastamento. Ela é irmã de Jörg, que acabou de sair da prisão. Durante três dias, amigos de longa data convivem com conflitos interpessoais e internos. A ideia é ajudarem Jörg a encontrar um rumo para a sua vida, a afastar-se da criminalidade, mas há muitas perguntas incómodas que uns insistem em fazer e outros em calar. 


Apesar do tremendo êxito que foram os seus romances anteriormente publicados por cá - A Sombra do Vento e O Jogo do Anjo, esta foi a minha primeira incursão na obra deste autor Catalão, Carlos Ruiz Zafón, sobre quem tanto se tem escrito e falado.
Como funciona a cozinha de um hotel de luxo? Como é a vida de um Chefe de Haute cuisine? Por detrás destas questões todo um misterioso mundo nos é desvendado ao longo deste romance da escritora Monica Ali. Para além do retrato do mundo da alta gastronomia, do seu funcionamento e dos seus meandros, este livro coloca-nos perante uma Inglaterra multi-cultural e multi-étnica em que é difícil compreender qual o papel que cabe a cada um na sociedade e como é que este mundo funciona. Perante o aparecimento do cadáver de um faxineiro na cave da sua cozinha Gabriel, chefe de cozinha que atravessa uma viragem na sua carreira, confronta-se com um mundo habitado por emigrantes precários para além de uma vida pessoal em fanicos e todo o seu mundo é dinamitado. O que nos faz correr? O que é de facto importante nas nossas vidas? O que esperam os outros de nós? Algumas perguntas que o livro nos faz formular e para as quais poderemos ou não encontrar respostas. 
Morreu ontem aos 87 anos o escritor Bernard Clavel. Este autor publicou o seu primeiro livro em 1956 mas apenas em 1968 com a atribuição do prémio Goncourt viu a sua obra reconhecida.





