A livraria K de Livro encerra hoje
É sempre muito difícil dizer que não
conseguimos.
É sempre com muita tristeza que
dizemos “vamos fechar”.
É sempre muito doloroso perceber que
o nosso sonho acabou.
A culpa é minha? Será que estou a
desistir? Será que já não tenho forças ou vontade de continuar?
A culpa será mesmo da crise? Ou será
mais desta concorrência desenfreada e sem limites?
Depois de dez anos a lutar por um
projecto, não só comercial mas também cultural, somos obrigados a fechar as
portas da nossa livraria, do nosso espaço de encontro e partilha, do nosso
lugar mágico.
Não me vou queixar da “situação actual”,
que me obriga a fechar as portas; é claro que estou zangada, é claro que estou
furiosa, depois de ter dado tanto sinto que me tiram tudo. O que quero é deixar
aqui o meu testemunho como livreira e o quão foi bom ser livreira.
Quando abrimos a livraria há dez anos
foi, apenas, por gostarmos de ler e querermos partilhar esse gosto. Mas afinal
viver numa livraria é muito mais do que isso.
Trabalhar na livraria foi uma
constante aprendizagem; aprendi a ler e a ver livros infantis, aprendi a falar
de livros infantis, aprendi a pensar numa criança e a imaginá-la a deliciar-se
com a poesia de João Pedro Mésseder ou as ilustrações da Planeta Tangerina, ou
ainda com a assustadora Bruxa
Arreganhadentes.
Trabalhar na livraria foi uma partilha
de ideias, de gostos e de emoções. Sinto que durante estes anos estive a viver
com pessoas, pessoas que lêem, pessoas que escrevem, pessoas que pintam,
pessoas que gostam deste mundo dos livros; e sinto que tê-las conhecido foi a
razão que nos fez chegar até aqui.
Trabalhar na livraria foi também uma
luta contínua, lutar por novos clientes, por manter os que já tínhamos; lutar
para nos demarcarmos por sermos diferentes; lutar para que acreditassem nos
nossos conhecimentos, no nosso profissionalismo e para que todos soubessem que
estamos aqui e que, apesar de pequeninos, sabemos o que fazemos e fazemo-lo bem
porque o fazemos com amor.
Quero agradecer muito, do fundo do
coração, às pessoas que estiveram connosco, aos nossos amigos escritores e aos
nossos amigos leitores.
Um obrigado muito especial aos
escritores Paulo Moreiras, Miguel Real, Richard Zimler e João Tordo que
acarinharam desde muito cedo o nosso projecto e sempre aceitaram vir à livraria
apresentar os seus livros e demonstrar-nos a sua amizade.
Não posso deixar de agradecer aos
nossos leitores pombalenses, à Margarida e à Ana, pela forma como nos
receberam, como nos acompanharam e nos deram forças para continuar.
Mas
chegou o momento de nos despedirmos, encaixotar livros, desmontar estantes,
desligar as luzes e fechar a porta.
Natália