segunda-feira, 8 de março de 2010

Verão

As minhas anteriores leituras de Coetzee deixaram-me na expectativa quando soube da edição deste seu novo livro. Apesar de ser uma autobiografia, que não é o meu género favorito, decidi pegar-lhe logo que ele chegou. Posso afirmar que a expectativa não foi defraudada.
O livro fala-nos de um período da vida do autor nos anos 70 em que ele não é ainda um escritor famoso. A forma original como escolheu contar-nos a sua história é logo à partida uma mais valia : O escritor, prémio Nobel John M.Coetzee morreu e um autor Inglês decide escrever o retrato da sua vida durante um período de cerca de quatro anos. O meio que escolhe para saber mais acerca do escritor é entrevistar cinco pessoas que contactaram com ele durante esses anos. Este não é um livro de auto-promoção, antes pelo contrário - a imagem que os entrevistados têm de Coetzee é a de um homem que é de certa forma um falhado, um perdedor. Regressado há pouco tempo a uma África do Sul na qual não consegue encaixar-se, não tem um emprego à sua altura, não tem uma namorada, vive com um pai doente numa casa decadente, enfim, é um exemplo a não seguir.
São abordadas algumas questões habituais em Coetzee relacionadas com o domínio branco na África do Sul e com o seu mal-estar perante uma sociedade caracterizada pelo Apartheid. Também as questões literárias são tema, nomeadamente com a dificuldade que o autor tem em exprimir-se seja oralmente, seja por escrito ( tendo aqui a poesia um papel relevante na história ). São os anos em que o escritor tenta definir um rumo para a sua vida, que não tem absolutamente nada do glamour que se poderia esperar de um autor tão conceituado.
Pelos vários motivos referidos esta é uma leitura extremamente agradável quer se conheça ou não a obra do autor.

Regina

Sem comentários: